Uma iniciativa promissora liderada por pesquisadores brasileiros promete revolucionar a produção de café através do treinamento de abelhas africanizadas (Apis mellifera).
Inspirados pela capacidade de farejamento de cães, o projeto desenvolve uma estratégia de polinização guiada pelo odor, utilizando biomoléculas sintéticas para treinar as abelhas a identificarem o aroma característico das flores de café.
Isso porque esses insetos polinizadores têm a capacidade de desenvolver memória olfativa, associando o ambiente onde coletam o pólen e o néctar de flores ao odor deles.
As abelhas usam sinais de cor e a fragrância para encontrar e polinizar flores. E são esses sinais que podem ser usados para treiná-las em laboratório, de modo que consigam reconhecer mais facilmente culturas agrícolas-alvo quando suas colônias forem liberadas em lavouras e realizar a polinização de forma mais eficiente.
Financiado pelo Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), o projeto tem como objetivo não apenas aumentar a produtividade, mas também elevar a qualidade dos grãos de café. A solução, que imita a fragrância natural da flor do café, oferece a possibilidade de treinar as abelhas em laboratório, proporcionando uma polinização mais eficiente no campo.
Maior quantidade e qualidade
Resultados preliminares apontam para um aumento significativo na produção do grão, estimado em mais de 18%. A ideia central é capitalizar a capacidade das abelhas em associar o odor específico da flor de café, resultando em uma polinização mais direcionada e, consequentemente, em uma melhoria tanto na quantidade quanto na qualidade dos grãos.
Os benefícios potenciais vão além do aumento na produção; a polinização direcionada pode aprimorar as características sensoriais dos grãos e impactar positivamente na indústria cafeeira.
Além do café, o projeto visualiza a aplicação dessa técnica inovadora em outras culturas agrícolas, como laranja, abacate e açaí.
Conscientização sobre a importância
Apesar da importância da polinização para a agricultura, muitos cafeicultores ainda não compreendem totalmente o papel crucial desse processo. O projeto não apenas propõe uma solução tecnológica, mas também busca conscientizar os produtores sobre a importância da polinização na cafeicultura, destacando os benefícios tangíveis que essa abordagem inovadora pode oferecer.
O projeto é liderado pelo ecólogo João Marcelo Robazzi, pela doutora em entomologia na Universidade de São Paulo (USP – Campus Ribeirão Preto), Marcela Barbosa, e pela professora da Unicamp e pesquisadora da Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (APTA), Maria Imaculada Zucchi.
A iniciativa, que visa transformar não apenas a produção de café, mas também influenciar práticas agrícolas mais sustentáveis, representa um passo significativo em direção a um setor agrícola mais eficiente e responsável.