Um estudo publicado recentemente por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ) da Universidade de São Paulo (USP), com participação da Fundação SOS Mata Atlântica, mostra que a recuperação florestal da Mata Atlântica é economicamente viável e pode aumentar a produtividade de cafezais próximos em até 30%, compensando os custos ao longo do tempo.
Os pesquisadores testaram diferentes cenários e estimam que uma fazenda de café que recupere em torno de 25% de sua área degradada, consiga compensar os custos dessa recuperação em até 20 anos, através do aumento da produtividade devido aos benefícios trazidos pelos serviços ecossistêmicos fortalecidos, como o aumento de polinizadores, redução da temperatura do ar e melhoramento da qualidade do solo e da água, por exemplo.
Segundo os cientistas, existe ainda a possibilidade da venda de créditos de carbono provenientes da área restaurada poderia gerar lucro para os produtores. Considerando uma média de US$5 por tonelada de carbono, todos os cenários testados pelos pesquisadores resultaram em lucro.
Mesmo contando com a Lei de Proteção da Vegetação Nativa – código que determina a proteção da floresta existente e a restauração de áreas indevidamente utilizadas –, o Brasil possui um passivo ambiental de quase 13 milhões de hectares que precisam ser restaurados.
O estudo ainda indica que outros cultivos podem ter sucesso com o mesmo modelo de restauração, como plantações de frutas e sementes, além de eucalipto e a soja, mercado no qual o Brasil é líder mundial. Além disso, biomas além da Mata Atlântica também podem ser beneficiados pela aplicação, como o Cerrado e a Amazônia.
Para os pesquisadores, os benefícios econômicos da descoberta — publicada na revista científica norte-americana One Earth — podem ajudar a formular políticas públicas para promover a restauração de paisagens agrícolas em maior escala, incentivar que os produtores cumpram a lei e contribuir para a mitigação das mudanças climáticas e a conservação da biodiversidade.
Para produtores que desejam restaurar áreas de floresta em suas propriedades, existem diversas iniciativas que podem oferecer apoio técnico e financeiro. Uma delas é o programa “ABC+“, do governo federal, que oferece linhas de crédito para a recuperação de áreas degradadas.
O estudo é assinado por Francisco d’Albertas, doutor em Ecologia pela USP, Luís Fernando Guedes Pinto, engenheiro agrônomo e diretor-executivo da Fundação SOS Mata Atlântica e Jean-Paul Metzger, professor do departamento de Ecologia da USP, diretor do projeto Biota Síntese e coordenador do Grupo de Estudos de Serviços dos Ecossistemas do IEA.