Se há uma bebida que simboliza a globalização, é o café. Quer seja um espresso italiano, um café coado brasileiro, um café turco forte ou um americano mais suave, cada xícara conta a história de uma viagem que começou nas montanhas da Etiópia e se espalhou por todos os cantos do mundo.
Segundo a lenda, no século IX, um pastor etíope chamado Kaldi notou que suas cabras ficavam excessivamente animadas após comer certas bagas vermelhas. Curioso, ele provou as bagas e experimentou uma sensação de euforia e energia.
A descoberta foi compartilhada com monges de um mosteiro próximo, que perceberam os efeitos revigorantes da bebida produzida com essas bagas durante as longas horas de oração. Essa é a humilde origem do que viria a ser a segunda commodity mais negociada do mundo, superada apenas pelo petróleo.
No século XIV, o café fez seu caminho até a Península Arábica. Batizado de “qahwa”, que significa “vinho”, tornou-se uma alternativa aos efeitos do álcool, proibido no mundo islâmico.
Os mercadores árabes, visando manter o monopólio do café, tentaram restringir seu comércio. No entanto, no século XVII, a bebida foi contrabandeada para a Europa, onde conquistou o paladar e o coração dos europeus, apesar das tentativas da igreja de demonizá-la. As casas de café proliferaram, tornando-se centros de atividade intelectual e social, apelidadas de “Casas do Saber”.
Enquanto a Europa se apaixonava pelo café, o Novo Mundo também se rendia aos seus encantos. Mudas de café foram trazidas para as colônias europeias na América, onde encontraram condições ideais para seu crescimento. O Brasil, nesse cenário, ascendeu como um grande produtor de café no século XVIII e mantém essa posição até hoje, sendo responsável por cerca de 32,7% da produção mundial de café.
Durante o período colonial, a história do café no Brasil está tristemente entrelaçada com a da escravidão. As grandes fazendas de café, conhecidas como “baronatos do café”, eram sustentadas pela exploração de mão-de-obra escrava. A riqueza gerada pela exportação do café permitiu aos senhores de terras exercerem grande influência política e econômica, moldando a história do Brasil de maneiras que ainda se refletem hoje.
Com a abolição da escravatura em 1888, a indústria do café passou por transformações significativas, evoluindo gradualmente para as práticas de trabalho mais justas que conhecemos atualmente. No entanto, é importante lembrar e refletir sobre este passado doloroso quando falamos da história do café no Brasil.
Com o tempo, o café se transformou. Novos métodos de cultivo foram adotados e inovações, como a máquina de café expresso no início do século XX, revolucionaram a forma como a bebida é apreciada. O café se tornou mais do que uma bebida, mas um componente central da cultura de diversas nações, cada uma com suas próprias tradições e rituais em torno do café.
Hoje, o café é mais do que uma bebida – é um fenômeno cultural, econômico e social. A jornada do café, das montanhas da Etiópia até a xícara de café na mesa do brasileiro, é uma história fascinante que transcende fronteiras e culturas. Uma história que, assim como a bebida, promete continuar a nos cativar.