Especialistas do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), renomado centro brasileiro de pesquisa e melhoramento genético de café, estão à frente de um projeto pioneiro que busca produzir uma variedade de café que é naturalmente descafeinada.
A iniciativa, que já tem mais de duas décadas, encontrou sua origem no germoplasma – estrutura que contém o material genético de uma espécie – de três plantas de café de origem etíope que possuíam menos de 0,10% de cafeína, já se enquadrando na definição de descafeinado, conforme estabelecido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Desde a descoberta, uma importante etapa do projeto tem sido a clonagem dessas plantas e o cruzamento com variedades brasileiras para atingir dois principais objetivos: manter o baixo teor de cafeína e garantir alta produtividade.
Após anos de pesquisa meticulosa, as variedades resultantes foram selecionadas para plantio, dando início à fase de testes regionais, com as sementes sendo cultivadas em diversas regiões produtoras de café do Brasil para averiguar a eficácia das plantas em diferentes climas e solos.
No entanto, apesar de a pesquisa estar entrando em sua fase final, é preciso paciência, pois levará ainda cerca de oito anos para a conclusão efetiva do projeto, segundo estimativas do pesquisador Júlio César Mistro, membro da equipe do IAC. Posteriormente, para que a nova variedade de café chegue às prateleiras dos supermercados, serão necessários, pelo menos, mais quatro anos.
A espera, no entanto, promete trazer benefícios significativos. Atualmente, a descafeinação envolve processos que utilizam água e solventes químicos, resultando em maior custo de produção e diminuição da qualidade da bebida, uma vez que alguns compostos aromáticos do café são perdidos. O novo tipo de café descafeinado naturalmente tem o potencial de fornecer um produto mais acessível e saboroso, revolucionando a indústria do café.
Fonte: Folha de São Paulo